Hoje o post será sobre seleção brasileira. Mas, é
claro, não irei escrever sobre os últimos dois amistosos. Até porque esse
assunto já pereceu. A discussão é outra e, por mais que seja antiga, ainda
rende um bom debate, sem prazo de validade.
Logo após o amistoso entre Brasil e Rússia passei um
bom tempo resenhando com um amigo sobre a partida. Começamos falando sobre a
medíocre atuação da seleção e acabamos numa complexa discussão sobre o futebol
espetáculo x futebol resultado. Enfim, divergimos na questão arte. Enquanto o
meu amigo se indignava com o fraco desempenho da seleção, relembrava os áureos
tempos em que nos orgulhávamos de levar aos quatro cantos um futebol de
improviso e descontraído, e vislumbrava o retorno da arte que nos consagrou como
a pátria das chuteiras, eu era incisiva em dizer que o futebol brasileiro, como
arte, não existe mais.
Ele insistia em me fazer acreditar que o futebol do
Brasil apenas passa por uma crise, e que continuamos sendo, irremediavelmente, um
celeiro de craques. Fui obrigada a concordar que temos bons jogadores, mas não
o suficiente para restabelecer a ordem, e devolver o respeito perdido pela seleção
canarinho.
Não tenho a intenção de ser cética. Contudo, se nas
décadas de 1960, 70 e 80 tínhamos Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Zico, Falcão
e Sócrates, craques construídos naturalmente, pura e simplesmente pela
habilidade com a bola nos pés, hoje, depositamos toda a nossa quimera em
Neymar. Que me desculpe os fãs desmedidos do futebol do rapaz, porém, me parece
muito mais um craque midiático do que um jogador brilhante por natureza.
O futebol arte do Brasil se escondeu em alguma vala
inacessível e permanecerá no buraco, ao menos que alguma reviravolta convença
os brasileiros de que as “construções nacionais” podem ser melhores que as do
vizinho. Caso contrário, o nosso futebol se aproximará, cada vez mais, do
estilo de futebol europeu. Um processo que se iniciou, de maneira mais
contundente, após a derrota na Copa de 82, parece atingir seu auge, 30 anos
mais tarde. O futebol de improviso caiu
diante do futebol-força, e a nossa seleção precisou se adaptar ao letal “ocupar
de espaços”.
Além disso, os grandes jogadores não aparecem mais
com frequência e destreza. Certa vez um professor perguntou aos alunos, no qual
eu me incluo, por quantos campos de futebol passávamos nas nossas andanças
diárias. Nenhum. Uma resposta unânime. Parei para pensar sobre o assunto, e
percebi que há relação direta entre o fim desses espaços de lazer nas cidades e a carência de craques. Até mesmo o crescimento do mercado imobiliário
contribui para o fim do futebol arte. Sendo assim, me convenço, ainda mais, que
o futebol brasileiro passa por uma mudança gradual e definitiva.
Eram nesses campos de futebol, que antes estavam por
toda parte, que os garotos lapidavam suas habilidades e se importavam, exclusivamente,
em aplicar o melhor drible e ser elogiado pela jogada. Eram desses campos de
futebol, seja na grama cheia de falhas ou no chão batido, que nascia o
futebol-moleque, de pés descalços e uniformes enlameados.
3 comentários:
Olá, Raissa!
Você foi muito gentil com seu amigo, ao sitar aqueles craques. Esses estão acima da media. Pode citar a vontade jogadores como: Túlio maravilha, Viola, Djalminha, Rai, Neto, Marques, Jardel, Paulo Nunes, Edmundo... E por vai... Iguais a esses que eu citei, era um tanto que surgia ao mesmo tempo. Seu texto é perfeito. O que temos hoje, é digno de pensa. Essa é a nova ordem do nosso futebol. A partir de agora temos que conviver com isso, infelizmente. Abraço!
www.assuntodofutebol.com.br
E aê beleza?!
Concordo em tudo o que você falou. Mas acho que ainda dá para recuperar o futebol arte, e que o Brasil hoje não tem um craque mundial, e sim futuros craques que na minha opinião, não estarão no seu auge em 2014 (digo craques que definem partidas, já que Thiago Silva parece estar em seu auge).
Abraços.
Gostaria de entrar para a equipe do FC Gols? Me responda em um comentário separado (sozinho).
Aceita parceria?
http://fcgols.blogspot.com.br/
È a mais pura verdade, esse é melhor texto que ja li sobre futebol, e a prova disso foi constatada ontem, com o resultado desastroso.
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